Itália detalha projeto de porta-aviões nuclear apto a caças de sexta geração

Lead – A Marinha da Itália confirmou que, a partir de 2026, dará início aos estudos para desenvolver o Portaerei di Nuova Generazione, um porta-aviões movido a energia nuclear que deverá contar com catapultas eletromagnéticas, operar drones de combate e estar preparado para receber caças de sexta geração. Caso o plano avance, a embarcação reforçará a presença naval italiana no Mediterrâneo e colocará o país entre o restrito grupo de nações com navios-aeródromos nucleares.
- Quem conduz o projeto e qual a sua finalidade
- Quando os trabalhos começam e quais etapas estão previstas
- Onde a tecnologia nuclear se encaixa no Porta-aviões de Nova Geração
- Como as catapultas eletromagnéticas transformarão as operações aéreas
- Por que o projeto mira a sexta geração de caças
- Integração de drones e outras tecnologias embarcadas
- Quais desafios financeiros e de pessoal precisam ser superados
- Antecedentes históricos da ambição nuclear italiana
- Perspectivas e próximos passos
Quem conduz o projeto e qual a sua finalidade
O desenvolvimento do novo navio foi alinhado pela Diretoria de Armamentos Navais dentro do programa Minerva, lançado em 2023 para modernizar os meios de superfície da Itália. O objetivo declarado é ampliar a autonomia, a capacidade de projeção de poder e a flexibilidade operacional da frota, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e introduzindo tecnologias consideradas essenciais para cenários de guerra de próxima geração.
Com essa iniciativa, a Itália pretende fortalecer sua posição estratégica no Mediterrâneo, região onde o país possui interesses econômicos e de segurança de longa data. A adoção da propulsão nuclear é apresentada como um divisor de águas: a fonte energética de alto rendimento permitirá longos períodos de operação sem necessidade de reabastecimento, algo decisivo para missões prolongadas em mar aberto.
Quando os trabalhos começam e quais etapas estão previstas
A única fase com data definida até o momento é o estudo de viabilidade, programado para iniciar em 2026. Essa etapa envolverá análises de engenharia, avaliações de custo e definição de requisitos táticos. Segundo análises externas citadas em documentos institucionais, caso o conceito seja aprovado, a construção não ocorreria antes de 2030 e a incorporação ao serviço ativo ficaria para a segunda metade da próxima década, possivelmente após 2040.
O cronograma dilatado se deve à complexidade do empreendimento. A Itália precisa formar mão de obra altamente especializada, garantir cadeias de fornecimento nucleares seguras e estabelecer protocolos de manutenção para um sistema que o país ainda não domina em embarcações de superfície. Esses fatores são apontados como potenciais causas de atrasos e de incremento de custos ao longo do processo.
Onde a tecnologia nuclear se encaixa no Porta-aviões de Nova Geração
O projeto prevê a instalação de reatores navais de 30 megawatts cada, potência semelhante à prevista em um submarino nuclear anunciado pela Itália na década de 1950, mas jamais concluído. A escolha por esse patamar energético pretende equilibrar desempenho e dimensões: reatores mais compactos liberam espaço interno, permitindo acomodar maior quantidade de munições e combustível para aeronaves.
Além de poupar volume, a propulsão nuclear garante elevada autonomia. Um navio-aeródromo tradicional precisa reabastecer periodicamente óleo combustível, o que limita alcance ou exige navios-tanque de apoio. Ao adotar reatores, a Marinha poderá executar patrulhas extensas, realizar operações aéreas contínuas e responder com rapidez a crises regionais.
Como as catapultas eletromagnéticas transformarão as operações aéreas
O Portaerei di Nuova Generazione deverá abandonar o sistema de catapultas a vapor – mecanismo padronizado em porta-aviões de gerações anteriores – e adotar o EMALS (Electromagnetic Aircraft Launch System). O emprego de campos eletromagnéticos em vez de vapor pressurizado oferece aceleração mais linear, reduz desgaste estrutural das aeronaves e possibilita lançar aparelhos mais pesados.
Com a adoção do EMALS, a Itália planeja acolher aeronaves atualmente fora do alcance operacional de seus navios. Entre os modelos avaliados estão o F-35C, versão de asa maior do caça furtivo norte-americano, e, futuramente, jatos de sexta geração em desenvolvimento nos Estados Unidos. Para a frota italiana, que já opera o F-35B – variante de pouso vertical –, a mudança expande o leque de missões aéreas, sobretudo em termos de alcance, carga bélica e sensores de bordo.
Por que o projeto mira a sexta geração de caças
Os caças de sexta geração prometem integração avançada entre o piloto e sistemas de bordo, uso intensivo de inteligência artificial e elevada conectividade em rede. Para que um porta-aviões seja realmente compatível com essas aeronaves, precisa fornecer infraestrutura elétrica robusta, enlaces de dados seguros e espaço físico adequado para manutenção de sensores mais complexos.
Ao desenhar o navio com essas exigências desde o início, a Marinha busca evitar obsolescência precoce. Os documentos de conceito indicam que a disposição do hangar, os sistemas de apoio de voo e as interfaces de reabastecimento serão projetados para acomodar tanto aeronaves tripuladas quanto não tripuladas, antecipando a convergência entre aviões tradicionais e drones no convés de voo.
Integração de drones e outras tecnologias embarcadas
O futuro porta-aviões deverá lançar e recuperar drones empregados em missões de ataque, reconhecimento e vigilância. A incorporação desses vetores exigirá áreas dedicadas de preparação, sistemas de comando e controle específicos e procedimentos de deck adaptados ao voo não tripulado.
Outros recursos previstos incluem radares de última geração, proteção cibernética avançada e armas de energia direcionada. Embora os documentos não detalhem cada subsistema, a menção a “proteção cibernética” sinaliza preocupação com ataques eletrônicos que possam comprometer a operação do navio ou de suas aeronaves. Já os radares modernos ampliarão a capacidade de detecção de ameaças aéreas e de superfície em ambientes cada vez mais saturados por sinais eletromagnéticos.
Quais desafios financeiros e de pessoal precisam ser superados
Especialistas observam que a introdução de propulsão nuclear em um navio-aeródromo requer investimentos altos não apenas na construção, mas também na formação de tripulações, na criação de estaleiros adaptados e no estabelecimento de protocolos de segurança nuclear. O treinamento dos operadores de reator, por exemplo, demanda anos e exige certificações rigorosas.
Além do fator humano, o orçamento do programa Minerva deve acomodar custos de pesquisa e desenvolvimento, aquisição de componentes importados de alto valor agregado e manutenção de longa duração. A depender do cenário econômico, esses elementos podem pressionar as contas públicas e gerar debates políticos sobre a viabilidade do projeto.
Antecedentes históricos da ambição nuclear italiana
O interesse da Itália por propulsão nuclear naval remonta aos anos 1950, quando o país anunciou o submarino Guglielmo Marconi, planejado para operar com um reator de 30 megawatts baseado em tecnologia norte-americana. A iniciativa acabou abandonada na década seguinte, após o término da cooperação com os Estados Unidos, mas demonstra que a atual estratégia não surge do nada: ela retoma uma ambição interrompida há mais de meio século.
Ao mesmo tempo, poucos países possuem hoje porta-aviões nucleares em serviço. Os Estados Unidos figuram nesse grupo e servem de referência para o modelo que a Marinha italiana pretende adotar. Ao se aproximar desse patamar tecnológico, a Itália busca não apenas vantagens táticas, mas também prestígio político e influência em coalizões internacionais.
Perspectivas e próximos passos
Com a confirmação do estudo de viabilidade para 2026, o projeto entra em fase decisiva. Até lá, as equipes técnicas deverão consolidar requisitos operacionais, estimar custos e identificar parceiros industriais. Caso a análise aponte trajetória positiva e o governo mantenha o financiamento, o Portaerei di Nuova Generazione poderá marcar a estreia da Itália no clube dos porta-aviões nucleares e abrir caminho para operações aéreas com caças de sexta geração na década de 2040.
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