Expansão de data centers redefine paisagens e pressiona recursos naturais nos Estados Unidos

Data centers em grande escala avançam sobre áreas urbanas e rurais dos Estados Unidos, multiplicam-se quatro vezes desde 2010 e já somam mais de 1,2 mil unidades em operação ou com obras aprovadas, segundo levantamento divulgado em 17 de outubro de 2025.

Quem está por trás da nova onda de construções

A expansão é capitaneada por gigantes da tecnologia que dependem de infraestrutura intensiva para treinar modelos de inteligência artificial generativa e ofertar serviços de computação em nuvem. Entre os grupos mais ativos estão empresas que também assumiram compromissos de sustentabilidade, como Meta, Google, Amazon e Microsoft, embora os desafios práticos desses compromissos ainda sejam tema de debate.

O que está sendo construído e em que escala

Os complexos erguidos reúnem galpões amplos, sistemas de energia redundantes e redes de resfriamento de alta capacidade. De acordo com o relatório, a contagem de aproximadamente 1,2 mil data centers em diferentes estágios de execução representa um salto de quatro vezes em relação ao número registrado em 2010. Muitos desses centros ocupam centenas de hectares que, poucos anos antes, eram dedicados à agricultura ou permaneciam como áreas de vegetação não cultivada.

Quando a aceleração ganhou força

O ritmo atual começou a se intensificar em meados da década de 2020, impulsionado por incentivos federais concedidos durante a gestão de Donald Trump. Benefícios fiscais e flexibilização de normas de uso do solo foram adotados para estimular investimentos bilionários, com reflexos diretos na construção de novas instalações ao longo dos próximos anos.

Onde os impactos são mais visíveis

A região norte da Virgínia concentra a maior quantidade de data centers do país, consolidando-se como um polo nacional de tecnologia. Outros estados que despontam no cenário são Texas e Iowa, favorecidos por terrenos extensos, disponibilidade de energia e programas locais de isenção fiscal. Imagens de satélite reunidas pelo estudo revelam a mudança súbita da paisagem: áreas antes verdes dão lugar a estruturas de concreto, estacionamentos e linhas de transmissão recém-instaladas.

Como esses empreendimentos afetam o consumo de energia

O relatório destaca que um único data center pode demandar a mesma quantidade de eletricidade consumida por uma cidade de pequeno porte. A elevada carga energética fez com que clientes de serviços públicos em 41 estados já enfrentassem reajustes nas tarifas de luz e gás natural ou fossem informados de aumentos previstos para 2026. O motivo principal é a necessidade de ampliar redes elétricas, subestações e geração de base para atender picos constantes de demanda tecnológica.

Pressão sobre a água e riscos de escassez

Além da energia, a refrigeração dos equipamentos exige milhões de litros de água por dia, utilizada em sistemas de resfriamento evaporativo. Cerca de 40% dos centros atuais ou planejados situam-se em regiões classificadas como de baixo recurso hídrico. Isso intensifica a competição com o abastecimento doméstico e agrícola, principalmente em meses de estiagem. Para mitigar críticas, Meta, Google, Amazon e Microsoft anunciaram metas de “reposição” de toda a água consumida até 2030, mas o documento observa que o êxito dessas iniciativas dependerá de monitoramento independente e transparência nos relatórios de uso.

Repercussões sonoras e vibrações

Moradores de bairros vizinhos relatam ruído constante proveniente de geradores, chillers e torres de resfriamento. As vibrações alcançam residências próximas, afetando a qualidade do sono e a rotina diária. Queixas formais sobre poluição sonora se tornaram frequentes em conselhos municipais, levando alguns condados a revisar códigos de zoneamento para impor distâncias mínimas entre equipamentos de grande porte e áreas residenciais.

Transformações no uso do solo e consequências ambientais

Para acomodar pátios, estacionamentos e infraestrutura de cabos de fibra óptica, extensas faixas de vegetação nativa são removidas. A alteração de drenagem natural pode aumentar riscos de enchentes locais, enquanto a impermeabilização do solo reduz a recarga de aquíferos. Estudos citados no levantamento também apontam perda de habitat para fauna local e fragmentação de corredores ecológicos.

Benefícios econômicos e criação de empregos

Os investimentos necessários para erguer um data center ultrapassam a casa dos bilhões de dólares, gerando empregos diretos na construção civil e vagas permanentes em tecnologia, engenharia elétrica e manutenção. Governos estaduais e municipais argumentam que a arrecadação adicional em impostos e a movimentação da cadeia de suprimentos compensam parte dos impactos. Entretanto, o mesmo relatório observa que a automação crescente reduz a quantidade de postos de trabalho permanentes quando comparados a indústrias tradicionais de igual valor de capital.

Por que a demanda por processamento continua crescendo

A popularização de modelos de linguagem extensos, sistemas de recomendação em tempo real e serviços de streaming em alta resolução exige processamento massivo e latência reduzida. Empresas de tecnologia competem para oferecer menor tempo de resposta e maior capacidade, fator que conduz à construção de instalações próximas a centros de consumo de dados. Esse ciclo reforça a lógica de expansão contínua, já que novos aplicativos exigem servidores adicionais, e os servidores, por sua vez, demandam mais energia e água.

Expectativas futuras e desafios regulatórios

Projeções internas do setor indicam que a contagem de data centers nos Estados Unidos continuará a crescer nos próximos anos, acompanhando a evolução das arquiteturas de hardware especializadas em IA. Ainda assim, autoridades regulatórias começam a discutir normas de eficiência hídrica, limites de emissões indiretas e requisitos de transparência sobre consumo de recursos. Tais debates podem influenciar o ritmo de aprovação de novos projetos, sobretudo em estados com estresse hídrico crônico.

Equilíbrio entre inovação e sustentabilidade

Embora a infraestrutura de data centers sustente avanços tecnológicos que permeiam a vida cotidiana, o levantamento ressalta a necessidade de equilibrar benefícios econômicos e impactos socioambientais. A pressão sobre redes elétricas, mananciais e paisagens evidencia que as decisões de hoje moldarão a disponibilidade de serviços públicos e a qualidade ambiental das comunidades envolvidas nos próximos anos.