Gisèle Pelicot volta ao tribunal em novo recurso

Gisèle Pelicot volta ao tribunal em novo recurso, desta vez em Nîmes, onde será julgado o apelo de Husamettin Dogan, 44 anos, único dos 51 condenados que decidiu contestar a sentença.
A aposentada de 72 anos tornou-se símbolo da luta contra a violência sexual após o maior julgamento de estupro da história francesa, realizado de setembro a dezembro de 2024, em Avignon. Na ocasião, 46 homens foram condenados por estupro, dois por tentativa de estupro e dois por agressão sexual. Entre eles estava o então marido de Gisèle, Dominique Pelicot, sentenciado a 20 anos de prisão por ter drogado a esposa e filmado os abusos cometidos por dezenas de homens recrutados on-line.
Gisèle Pelicot volta ao tribunal em novo recurso
Dogan recebeu nove anos de prisão por estupro agravado, mas não está detido devido a questões de saúde. Ele recorre tanto da condenação quanto da pena. Diferentemente do júri técnico que o condenou, a nova audiência será decidida por nove jurados populares, o que pode resultar em pena mais severa dada a repercussão social do caso.
Assim como fez no primeiro julgamento, Gisèle optou por comparecer, embora não seja obrigada. Segundo seu advogado, Stéphane Babonneau, ela considera um “dever moral” acompanhar o processo até o fim. As chocantes gravações dos abusos voltarão a ser exibidas em sessão prevista para durar quatro dias.
A estratégia da defesa de Dogan repete o argumento de que ele não sabia que a vítima estava inconsciente, tese já rejeitada pelo tribunal. Em depoimento anterior, ele admitiu ter dito que Gisèle “parecia morta”, mas negou ser estuprador. Analistas, como a magistrada Magali Lafourcade, avaliam que a sensibilidade dos jurados quanto a consentimento e violência sexual evoluiu após o primeiro julgamento, aumentando o risco de uma decisão desfavorável ao réu.
Fora dos tribunais, o caso causou fissuras na família Pelicot. Dos três filhos de Gisèle, apenas o caçula, Florian, estará presente. Caroline Darian e David Pelicot afastaram-se da mãe após alegações de que Dominique também teria abusado da filha, acusações que ele nega. Caroline processou o pai e passou a militar contra a “submissão química”.
Desde o veredicto de 2024, Gisèle foi incluída na lista das 100 pessoas mais influentes da revista Time e recebeu a Legião de Honra francesa. Ao mesmo tempo, busca retomar a privacidade na ilha de Ré, direito defendido judicialmente após a publicação de fotos não autorizadas pela revista Paris Match.
A retomada do caso volta a gerar expectativas entre ativistas e imprensa internacional. De acordo com a BBC News, a presença da vítima pode novamente mobilizar apoiadores em frente ao tribunal, como ocorreu na primeira fase do processo.
O julgamento prossegue até quinta-feira, quando o júri deverá anunciar se mantém ou altera a condenação de Husamettin Dogan.
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Crédito da imagem: Getty Images
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