Descobre porque os cães uivam e quando deves preocupar-te

O uivo é um dos sons mais característicos dos canídeos. Apesar de muitas vezes associado a presságios ou a situações negativas, trata-se de um comportamento natural nos cães domésticos. Perceber em que circunstâncias o animal recorre a esta vocalização ajuda a identificar necessidades, estados emocionais e possíveis problemas de saúde.

Herdeiros dos lobos: a origem do uivo

Geneticamente próximos dos seus ancestrais selvagens, os cães mantêm vários comportamentos típicos dos lobos, entre os quais o uivo. Para a espécie, esta vocalização serve para comunicar com o grupo, delimitar território ou alertar para perigos. Entre as raças modernas, os Huskies siberianos, Chow Chows e Basenjis — geneticamente consideradas mais antigas — continuam a uivar com maior frequência do que raças desenvolvidas mais recentemente, como o Golden Retriever.

Um estudo publicado na revista Nature, que analisou a reacção de 68 cães ao som de uivos de lobos, confirmou essa tendência: animais pertencentes a raças antigas e cães mais velhos uivaram mais do que exemplares jovens ou de raças recentes.

Quando o uivo indica ansiedade de separação

Muitos cães uivam assim que o tutor se afasta. Sem noção precisa do tempo, o animal pode interpretar a saída como um afastamento indefinido, desenvolvendo ansiedade de separação. Nestas circunstâncias, o uivo é uma tentativa de restabelecer contacto. Brinquedos interactivos ou actividades que mantenham o cão ocupado durante a ausência do tutor podem reduzir o comportamento.

Dor física e pedido de ajuda

Tal como o choro nos humanos, o uivo pode sinalizar sofrimento ou mal-estar. Se a vocalização surge de forma súbita, acompanhada de perda de apetite, apatia ou outros sinais clínicos, é aconselhável consultar um veterinário para descartar lesões ou doenças.

Resposta a sons intensos

Com audição mais sensível que a humana, os cães detectam frequências altas e ruídos distantes. Sirenes, campainhas ou alarmes podem ser interpretados como alertas de perigo. Ao uivar, o animal tenta sobrepor-se ao som ou avisar o restante “grupo” de que algo invulgar está a acontecer.

Ritual de acasalamento

Machos não castrados também recorrem ao uivo durante o período reprodutivo para atrair fêmeas. Nestes casos, o comportamento tende a intensificar-se em épocas de cio nas proximidades.

Estratégia para captar atenção

Alguns cães aprendem que o uivo lhes garante resposta imediata do tutor, recebendo carinho ou petiscos logo a seguir. Se o objectivo do animal for apenas obter atenção, recompensá-lo pode reforçar o hábito. A alternativa passa por ignorar o uivo e oferecer interacção quando o cão estiver calmo, para que associe o bom comportamento à recompensa.

Tédio e necessidade de estimulação

A ausência de estímulos físicos e mentais pode levar o cão a vocalizar para aliviar o aborrecimento. Passeios diários, jogos de busca ou brinquedos que exijam raciocínio contribuem para reduzir o uivo provocado pelo tédio.

Como distinguir um uivo inofensivo de um sinal de alerta

Embora seja normal que o cão uive ocasionalmente, há situações que justificam atenção. O tutor deve observar:

• Frequência: Uivos constantes ou prolongados podem indicar ansiedade ou dor.
• Contexto: Se o comportamento ocorre apenas quando o animal fica sozinho, a causa poderá ser separação. Se surge após um ruído intenso, é possivelmente uma reacção acústica.
• Sintomas associados: Falta de apetite, letargia ou alterações no comportamento sugerem problema de saúde.

Quando o uivo se mostra persistente sem motivo aparente, a avaliação veterinária é recomendada. Em muitos casos, a combinação de consulta médica, treino comportamental e enriquecimento ambiental resolve o problema.

Comunicação, não superstição

O uivo permanece, sobretudo, uma forma de comunicação intra-espécie. Mesmo num ambiente urbano, alguns cães uivam para “conversar” com animais da vizinhança ou simplesmente para expressar emoções. Entender este comportamento, em vez de o encarar como mau presságio, permite ao tutor responder de forma adequada às necessidades do seu companheiro de quatro patas.

Imagem: Mark R Croucher via olhardigital.com.br